Dar asas ao saber
Comunidades de formação e educação ao longo da vida

A edição de 2023 deste Seminário é organizada em torno de três eixos temáticos que irão estruturar a apresentação e debate de ideias.

1. Educação e formação na escola

A escola, tal como a conhecemos, é uma das instituições chave da equidade e coesão social, mantendo-se como um dos pilares de uma sociedade democrática. Não obstante as múltiplas formas de obter conhecimento na atualidade, ela afigura-se como absolutamente necessária, já que a apropriação de saberes e competências, em qualquer idade, necessita do desafio que suscita a compreensão, a sistematização, a reflexão e a crítica. Além disso, a escola é uma instituição simultaneamente tão antiga quanto nova, suscitando múltiplos interesses e estudos por parte de distintas áreas científicas. Assinalam-se assim os contributos da investigação e das práticas daqueles que confrontados com novas realidades e novas culturas e impulsionados pela vontade de fazer mais e melhor, trouxeram para dentro da escola propostas pedagógicas e didáticas que conduziram a múltiplas inovações. Neste contexto, em que, também, é imprescindível reforçar os elos com as famílias e com a(s) comunidade(s), as funções dos professores são cada vez mais desafiantes e, sem dúvida, muito diferentes das da escola “tradicional”.
Que caminhos para valorizar a escola hoje? Que caminhos traçar para a interação entre a Escola e outras instituições culturais e artísticas com objetivos educativos semelhantes? De que professores/as precisamos para o fazer?

Neste eixo, pretende-se acolher uma pluralidade de contributos para pensar a Escola e a sua centralidade social.


2. Educação e formação nas comunidades

Os primeiros contactos com o mundo sensível ocorrem antes do verbo. É o início da descoberta. É um percurso que decorre na ação e confronto com a realidade concreta, no seio da família e nas comunidades, esfera onde se aprendem as primeiras palavras, se descobrem as emoções, se prefigura a identidade. No início baseia-se na empiria e adquire depois densidade com relações sociais mais complexas. A brincadeira, o jogo, a experimentação, a pertença a grupos, a criação de amizades são todas elas elementos de sociabilidade, em continuidade e aprofundamento com a formação que prossegue noutras interações sociais significativas. Sem dúvida as que são desenvolvidas na coletividade do bairro, no grupo de teatro, na consulta de livros na biblioteca municipal, nas lutas associativas e laborais, nas iniciativas de voluntariado, no acompanhamento e crítica da informação divulgada pelos media, na participação nas iniciativas sociais, culturais e cívicas. Não há antagonismo com a educação formal, mas complemento e enriquecimento. Como se realizam estas convergências? Ou serão divergências? Ou um acumular de experiências que só o próprio poderá sistematizar e fazer confluir? Essa educação cumulativa ajuda a navegar na intrincada rede de meios de comunicação, onde já pontuam os algoritmos e a inteligência artificial? Onde buscar as ferramentas para distinguir factos e valores, informação, opinião e desinformação?

Pretende-se neste eixo estimular a apresentação de contributos que reflitam sobre os diferentes contextos sociais de aprendizagem, onde memória e comunicação possibilitam sistemas de troca de informações, experiências, conhecimentos e mesmo afetos. 


3. Educação e formação inclusiva, intercultural e intergeracional

As comunidades podem ser espaços onde pessoas de diferentes idades, culturas e origens podem-se envolver em aprendizagens de forma contínua e colaborativa, trocando conhecimentos e experiências que permitem alargar os seus saberes e horizontes de partida. Os processos e as práticas em que se propiciam trocas que incidem na cultura de origem a que cada um pertence ou sente pertencer afiguram-se essenciais para promover uma sociedade de compreensão e de valorização da diversidade cultural.  O desenvolvimento de capacidades de comunicação e empatia com pessoas de diferentes origens, entendendo-as como pessoas iguais, com os mesmos direitos são um verdadeiro pilar das sociedades democráticas. Entre a velha e a nova emigração, entre quem parte e quem chega, o que se mantém e se renova como um desafio? A luta contra o racismo? Uma condição digna de acolhimento?
É igualmente relevante que se facilite e promova a interação entre pessoas de diferentes gerações, possibilitando a compreensão dos benefícios de uma convivialidade enriquecida por diferentes vivências e saberes. As condições de vida, o isolamento social da população idosa e o idadismo são uma grande preocupação em sociedades cada vez mais envelhecidas e segmentadas por faixas etárias. Reavivar as práticas comunitárias e familiares propiciadores da valorização dos mais velhos, sem hostilizar ou desprezar os mais novos, não será um desafio de uma sociedade que se quer inclusiva. E poderemos designá-la como tal sem acolher e cuidar dos direitos daqueles que mercê de algum tipo de condição biológica, física ou mental são especialmente vulneráveis? Como se faz a Inclusão? Onde e quem a faz?

É para este eixo que consideramos que devem confluir um conjunto de intervenções e de investigações associadas a processos de troca, comunicação e reivindicação traduzindo práticas diferenciadas rumo a uma sociedade mais coesa e inclusiva.