Território e Património, uma descoberta multidisciplinar
Ana Alcântara e Sílvia Ferreira | Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal

Resumo:
A relação entre território e património pode ser promovida através da valorização do património local como espaço multidisciplinar de aprendizagem cultural e científica. A paisagem assume-se como um elemento integrador quer do património construído quer do património natural. Inscreve-se deste modo o conceito de “paisagem cultural”, como
processo em que a interação entre o ambiente natural e as comunidades humanas imprime marcas no território produzindo espaços patrimoniais vivos e vividos. A análise da “paisagem cultural” abre possibilidades para “superar um tratamento compartimentado entre o património natural e cultural (…) entendendo-os como um conjunto único, um todo vivo e dinâmico” (Scifoni, 2016, p.253).
O campus do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) foi construído numa zona de montado e a existência deste valioso património, integrado numa paisagem local com características específicas, apresenta inúmeras oportunidades como fonte de experiências de ensino/aprendizagem e de desenvolvimento de uma cidadania ativa. Nesta oficina, discutem-se algumas destas características da paisagem do campus do IPS, articulando o património construído com o património natural.
O edifício da Escola Superior de Educação do IPS, inaugurado em 1993 e cujo projeto valeu o Grande Prémio Nacional de Arquitetura a Álvaro Siza Vieira, “procura integrar-se na paisagem natural, um bosque de sobreiros centenários” (Siza, 1995, p.25). Constitui-se, portanto, como uma marca na paisagem que permite perspetivar dinâmicas e evoluções na relação entre as comunidades humanas e ambiente natural neste território. Deste modo, nesta oficina, pretende-se também explorar o espaço exterior do campus do IPS e contribuir para o desenvolvimento de alguns dos objetivos de aprendizagem preconizados no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 15 (vida terrestre) (UNESCO, 2017), nomeadamente a identificação de algumas espécies locais, a ligação com áreas naturais locais e a sensação de empatia com a vida não humana na Terra, assim como o questionamento do dualismo ser humano/natureza e a perceção de que fazemos parte da natureza e não estamos à parte dela. A identificação das espécies, com recurso a ferramentas digitais, estará centrada em algumas espécies
vegetais, uma vez que, embora muito presentes na natureza e nas nossas vidas, tendemos a ser indiferentes às plantas (Jose, Wu & Kamoun, 2019).

Referências:
Jose, S., Wu, C., & Kamoun, S. (2019). Overcoming plant blindness in science, education, and society.
Plants, People, Planet, 1(1), 169-172. https://doi.org/10.1002/ppp3.51.
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) (2017). Educação para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: objetivos de aprendizagem. Paris: UNESCO.
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000252197.
Scifoni, S. (2016). Paisagem cultural. In Grieco, Teixeira, Thompson (Orgs.). Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural, Rio de Janeiro: IPHAN/DAF/Copedoc.http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/82/paisagem-cultural
Siza Vieira, A. (1995). Obras e Projectos, Matosinhos: Electa.