Dar asas ao saber
Diálogos Multi, Inter e Transdisciplinares
A edição de 2022 deste Seminário é organizada em torno de seis eixos temáticos que irão estruturar a apresentação e debate de ideias.
A – Articulação entre saberes em projetos e práticas curriculares.
Org: Ana Maria Boavida e Leonor Saraiva
O conhecimento – tal como é ensinado hoje em dia – percebe mal a complexidade: ou separa os dados ou vê apenas confusão. Porque o conhecimento nunca é uma fotografia da realidade. Ele é sempre uma tradução e uma reconstrução que transportam o risco do erro. |
Em termos de articulação curricular, a transdisciplinaridade / interdisciplinaridade / multidisciplinaridade dizem respeito, não apenas a conteúdos, mas também a capacidades, valores e atitudes. Uma tal abordagem parece implicar o ensino e a aprendizagem daquilo que Edgar Morin designa por la connaissance pertinante [conhecimento pertinente], como sendo aquela que é capaz de situar as informações e os dados fornecidos num determinado contexto, e não tanto o conhecimento sofisticado nos seus processos formais. Como chegar lá de uma forma sólida e consistente é o desafio que permanece. Neste sentido, retomam-se questões diversas: propõe-se eliminar disciplinas? Deixam de ser necessárias? Como organizar o trabalho docente? Como se organiza o trabalho em equipa? Procura-se mobilizar saberes diversos para pensar problemas complexos, como defende Morin?
B – Feedback nas práticas formativas
Org. Sofia Figueira e Fernando Santos
“A complexidade é um desafio ao conhecimento ao pensamento, à ação. A nossa realidade, quer seja física, biológica ou social, é um cocktail estranho de ordem, de desordem e de organização.” |
É indiscutível a importância do feedback para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem. O que entendemos por feedback nas práticas formativas? Em que consiste este processo? Quando, e em que condições, deve ser realizado? Pretende-se favorecer a partilha de experiências diferenciadas assim como a análise de perspetivas sobre a relevância do feedback nas práticas formativas, dando voz aos intervenientes.
C – Cognição e emoção nos processos educativos
Org. António Marques e Ana Maria Pessoa
“Ensinar a complexidade é, em particular, restaurar a unidade da natureza humana para que todos, onde quer que estejam, adquiram conhecimento e consciência tanto da sua identidade complexa como da sua identidade comum com os outros seres humanos.” |
Edgar Morin defende, como princípio metodológico, a necessidade de se ultrapassar a conceção unidimensional do ser humano, enquanto ser biológico e racional, e de se equacionar a relação dialógica entre o indivíduo e a sociedade. Não é mais possível, como aconteceu nos últimos séculos, defender a separação e, mesmo a hierarquização, entre racionalidade e sensibilidade na base das conceções educativas.
Como conceber um sistema educativo que supere a oposição entre razão, emoção e afetividade? Como trabalhar os currículos escolares num equilíbrio entre aspetos cognitivos, racionais, emocionais e afetivos? Como encarar sentimentos, valores e emoções, articulando cognição e afetividade, como objetos de conhecimento? Como trabalhar a literacia emocional em contexto educativo?
D – Diálogos profissionais em equipas multidisciplinares: Confluências e inquietações
Org: Ana Pereira e Lídia Marôpo
“É essencial formar os espíritos para contextualizarem toda a informação e todo o conhecimento factual, para serem capazes de integrar um saber fazer no sistema onde se situa e onde participa. Por conseguinte, é necessário ensinar os métodos que permitam apropriar-se das relações mútuas e das influências recíprocas entre as partes e o todo num mundo complexo.” |
Atualmente pede-se que cada profissional de uma determinada área de saber saiba dialogar com profissionais de outras áreas de saber, contribuindo desse modo para se pensar e agir de forma mais holística, contextual e adequada às questões e problemas. Assim, importa analisar metodologias e essencialmente impulsionar o trabalho em equipa, rentabilizando a diferença de recursos e de competências. Procura-se compreender como é que nos diversos contextos organizacionais e comunitários se tem vindo a equacionar e a construir o trabalho colaborativo, assim como as estratégias que permitem sustentá-lo e torná-lo significativo.
E – Educação do futuro: Que saberes?
Org: Carla Cibele, Miguel Figueiredo e Pedro Felício
“O conhecimento do mundo enquanto mundo torna-se necessidade simultaneamente intelectual e vital. É o problema universal para qualquer cidadão do novo milénio: como adquirir o acesso às informações sobre o mundo e como adquirir a possibilidade de as articular e de as organizar? Como perceber e conceber o contexto, o global (a relação todo/partes), o multidimensional, o complexo? Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo é necessário uma reforma de pensamento. Ora esta reforma é paradigmática e não programática: é a questão fundamental para a educação, porque ela respeita à nossa aptidão em organizar o conhecimento”.
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Na obra “Os sete saberes para a educação do futuro” (UNESCO, 2000), Edgar Morin analisa a educação de hoje, apresenta problemas centrais e enuncia os sete saberes necessários às gerações do século XXI. O autor aconselha o ensino do conhecimento dos conhecimentos e apresenta os princípios de um saber pertinente, onde as partes são solidárias com o todo, no objetivo central de promover no indivíduo a capacidade de uma cidadania plena. É neste espírito de complexidade e diversidade no ensino que se pretende promover a partilha de práticas que coloquem em perspetiva a interrogação que designa este eixo.
F – Construção de uma ética ecológica e planetária: Que caminhos?
Org: Helena Simões e António Vasconcelos
“O pensamento planetário deixa de opor o universal e o concreto, o geral e o singular (…) A política da complexidade precisa de pensamento complexo para enfrentar problemas que implicam incertezas e imprevisibilidades, interdependências e inter-retroações, que se estendem a todo o planeta.” |
As sociedades contemporâneas são confrontadas com diferentes tipos de complexidades relacionadas com a natureza, o pensamento e a ação. O problema da ecologia tornou-se um problema político embora, como refere Morin, não se deva reduzir a política à ecologia.
Numa altura em que a sustentabilidade surge, de forma inequívoca, como uma ação de todos e para todos, importa interrogar os diferentes tipos de ações e a ética subjacente ao modo de viver, em articulação e complementaridade com a abrangência e diversidade do nosso mundo, atendendo que a incerteza em que a humanidade sempre viveu seja “uma incitação à vontade, à vigilância e à consciência” como escreve Edgar Morin.