Aida Graça
Agrupamento de Escola de Palmela
maio de 2023


A integração curricular do Pensamento Computacional (PC) foi impulsionada pelas discussões em torno do seu conceito e das suas práticas, caracterizando-se por três principais abordagens: como prática transversal a várias áreas curriculares; enquanto uma disciplina separada relacionada com a computação; e, por último, introduzido em outras disciplinas curriculares, como por exemplo a matemática ou as ciências (Bocconi et al., 2016, 2022). A introdução do PC no currículo confirma a relevância de práticas como resolução de problemas, abstração, algoritmos e programação (Heintz et al., 2016).

Os países que participaram no estudo de Bocconi et al (2022) apontaram como principal justificação para a integração curricular do PC o desenvolvimento das competências do século XXI, que são entendidas como essenciais para uma vida ativa no mundo digital. O nosso país, através da Direção-Geral da Educação (DGE), apontou a criatividade, a comunicação e a colaboração como as competências do sec. XXI relacionadas com o PC. Esta posição da tutela está em consonância com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória – PASEO (Martins et al., 2017). Um aluno no final da escolaridade obrigatória deverá ser “capaz de pensar crítica e autonomamente, criativo, com competência de trabalho colaborativo e com capacidade de comunicação” (pág. 15). O PC também se enquadra na área do Saber científico, técnico e tecnológico do PASEO, quando prevê que “os alunos sejam capazes de executar operações técnicas, segundo uma metodologia de trabalho adequada, para atingir um objetivo ou chegar a uma decisão ou conclusão fundamentada, adequando os meios materiais e técnicos à ideia ou intenção expressa” (pág. 29).

Portugal, entre outros países como a Finlândia, a Lituânia, a Suécia e a Federação Russa, optaram por uma abordagem mista na integração das práticas do PC no ensino básico, ou seja, estas serão desenvolvidas de forma transversal e implicadas com outras disciplinas, como por exemplo a Matemática e a Tecnologia (Bocconi et al., 2022). Para além de compreendermos a forma como o PC é integrado no currículo é fundamental que pensemos qual a melhor forma de preparar e apoiar os professores nas suas práticas de ensino (Bocconi et al., 2016).

A criação de um plano de formação de professores e a promoção da colaboração e coadjuvação são aspetos enfatizados como condições indispensáveis para a implementação curricular das Aprendizagens Essenciais da Matemática (AEM) por Canavarro et al. (2020), no relatório “Recomendações para a melhoria das aprendizagens dos alunos em Matemática”.

No caso específico do nosso país, o estudo “Introdução à programação, robótica e ao pensamento computacional na educação pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico”, de Ramos et al. (2022) indica-nos várias necessidades na formação de educadores e professores, nomeadamente: “da computação sem computadores” (pág. 91) e do apoio de recursos humanos nas ações de formação e nas atividades promotoras em sala de aula que implicam “o envolvimento e a manipulação dos robots, dispositivos móveis, placas ou de outros artefactos digitais ou analógicos.” (pág. 106).

O desenvolvimento profissional dos professores deve apoiá-los na utilização eficaz da tecnologia para melhorar as aprendizagens e, assim, melhorar o ensino (Kong et al., 2020). Para que os professores ensinem com a utilização da tecnologia, necessitam compreender o conteúdo que estão a ensinar, a tecnologia que estão usando e a pedagogia relacionada ao conteúdo, à tecnologia e aos alunos (Mishra & Koehler, 2006).

A integração curricular do PC e as suas práticas carecem de maior investimento na formação e capacitação dos professores, bem como no desenvolvimento de práticas de colaboração e a coadjuvação, da responsabilidade dos professores e das lideranças dos Agrupamentos de Escola. (Pinheiro et al., 2023).

Deste modo, a integração curricular do PC implica diferentes exigências aos vários atores do sistema educativo, sendo o conhecimento docente sobre o PC e as suas práticas umas das chaves para uma integração curricular bem-sucedida (Nordby et al., 2022).

Referências:

Bocconi, S., Chioccariello, A., Dettori, G., Ferrari, A., & Engelhardt, K. (2016). Developing Computational Thinking in Compulsory Education (P. Kampylis & Y. Punie, Eds.). Publications Office of the European Union. https://doi.org/10.2791/792158

Bocconi, S., Chioccariello, A., Kampylis, P., Dagienė, V., Wastiau, P., Engelhardt, K., Earp, J., Horvath, M., Jasutė, E., Malagoli, C., Masiulionytė-Dagienė, V., & Stupurienė, G. (2022). State of play and practices from computing education REVIEWING COMPUTATIONAL THINKING IN COMPULSORY EDUCATION.

Canavarro, A. P., Albuquerque, C., Mestre, C., Martins, H., Silva, J. C. e, Almiro, J., Santos, L., Gabriel, L., Seabra, O., & Correia, P. (2020). Recomendações para a melhoria das aprendizagens dos alunos em Matemática. https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Estudos_Relatorios/gtm_27_03_2020_relatorio_final.pdf http://hdl.handle.net/10174/34691

Heintz, F., Mannila, L., & Färnqvist, T. (2016). A review of models for introducing computational thinking, computer science and computing in K-12 education. 2016 IEEE Frontiers in Education Conference (FIE), 1–9. https://doi.org/10.1109/FIE.2016.7757410

Martins, G. d’Oliveira, Gomes, C. A. S., Brocardo, J. M. L., Pedroso, J. V., Carrilo, J. L. A., Silva, L. M. U., Encarnação, M. M. G. A. da, Horta, M. J. do V. C., Calçada, M. T. C. S., Nery, R. F. V., & Rodrigues, S. M. C. V. (2017). Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (J. V. Pedroso, Ed.). Ministério da Educação/Direção-Geral da Educação (DGE). https://dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Projeto_Autonomia_e_Flexibilidade/perfil_dos_alunos.pdf

Mishra, P., & Koehler, M. J. (2006). Technological Pedagogical Content Knowledge: A Framework for Teacher Knowledge PUNYA MISHRA. Teachers College Record, 108(6), 1017–1054.

Nordby, S. K., Bjerke, A. H., & Mifsud, L. (2022). Primary Mathematics Teachers’ Understanding of Computational Thinking. KI – Kunstliche Intelligenz, 36(1), 35–46. https://doi.org/10.1007/s13218-021-00750-6

Pinheiro, M. M., Albuquerque, C., Moreira, F. T., Torres, J. V., & Sousa, J. M. (2023). Pensamento Computacional na Educação: que sentido faz e que competências promove? In Matemática com vida: diferentes olhares sobre o pensamento computacional (UA Editora, pp. 9–26). https://doi.org/10.48528/3e5j-1e87

Ramos, J. L., Espadeiro, R. G., & Monginho, R. (2022). Introdução à programação, robótica e ao pensamento computacional na educação pré-escolar e 1.o ciclo do ensino básico necessidades de formação de educadores e professores (CIEP-UE). Centro de Investigação em Educação e Psicologia da Universidade de Évora. www.ciep.uevora.pt